Origens do medo da morte

* Celso Fortes de Almeida
** Ma. Fernanda C. Nascimento

Este trabalho foi desenvolvido no NUREKR I, Núcleo da Escola de Enfermagem – Universidade Federal da Bahia e ITAI, para capacitação de equipe multidisciplinar para atendimento a clientes com expectativa de vida limitada, resultando em uma mudança de atitude frente à morte e ao processo de morrer, próprio e do outro.

As origens do medo da morte são encontradas na história do próprio desenvolvimento humano em suas quatro dimensões: Física, Emocional, Intelectual ou Mental e Espiritual ou Intuitivo. Focaliza-se aqui o medo irracional, impresso na dimensão física, onde todo o conhecimento é sensorial. O sistema nervoso humano só conclui seu desenvolvimento completo por volta dos sete anos, donde todo medo sentido até esta fase estará registrado de forma visceral, na memória celular e não elaborável intelectualmente. Na dimensão emocional, o propósito é estabelecer relacionamentos e a morte é sentida como rejeição ou abandono. Na dimensão intelectual, o propósito é lidar com as questões da vida de forma lógica e racional e a morte é sentida como medo da entrega. Na dimensão espiritual, o propósito é retornar à unidade e transcender o ego; a morte aqui é sentida como medo de submeter-se ao desconhecido. Só alinhado em todas as suas dimensões, o homem pode preparar-se para encontrar a sua morte com dignidade.

Leia mais sobre este assunto nas abas abaixo:

Introdução

O NUREKR I – Núcleo de Renascimento Elisabeth Kübler-Ross I, é um Convênio de Cooperação Técnico-Científica entre a Universidade Federal da Bahia, através da Escola de Enfermagem / DEMCAE e a ITAI – Instituição Tribo Arco-Iris, filantrópica, não governamental e sem fins lucrativos.

O objetivo principal deste Núcleo é integrar a assistência, o ensino e a pesquisa no que concerne à Tanatologia. A filosofia é promover a dignidade na vida e na morte a todas as pessoas que assim o quiserem, entendendo a dignidade como o respeito a si mesmo, ao outro e a todas as formas de vida. A principal meta é assegurar um atendimento humanizado, despertando uma mudança de atitude em relação à morte e ao processo de morrer, através da assistência multidisciplinar em âmbito domiciliar, a clientes com expectativa de vida limitada e seus familiares, segundo o modelo “Hospice”.

Dentro da estrutura da ITAI, o NUREKR I é parte integrante do Núcleo de Renascimento Elisabeth Kübler-Ross, que atenderá no modelo “Hospice”, nos âmbitos domiciliar, ambulatorial e hospitalar. (Gestos Finais).

Especificamente na área do ensino, o NUREKR I busca promover a formação integral e multi-qualificada pelo trabalho em regime complementar à área de educação formal, a profissionais, professores, estudantes e voluntários, através de um programa de capacitação que consiste em Workshops, Vivências, Oficinas, Seminários e Curso. Todos os eventos são sequenciais e interligados.

O presente artigo foi escrito à partir das aulas ministradas no Curso de Tanatologia com o objetivo de promover subsídios teórico-práticos na área do estudo da morte e do processo de morrer.

Compreender o medo da morte nos possibilita ter consciência de nossas perdas diárias, facilitando assim sentir e elaborar estas perdas e dar suporte ao próprio processo e ao do cliente; possibilita ainda um atendimento mais humanizado e menos transferencial. Este medo não elaborável só pode ser minimizado à partir da consciência e aceitação da própria finitude e terminalidade em todas as suas dimensões, tornando-nos capazes de lidar com o tão doloroso processo de morrer e o momento da morte.

DUALIDADE E APEGO

A história do desenvolvimento humano se dá em quatro dimensões: física, emocional, intelectual e espiritual (KÜBLER-ROSS, 1983 e 1995). É no desenvolvimento destas dimensões que se forma o medo visceral e irracional da morte.

Pela intenção e pelo desejo nascemos para esta realidade. (PIERRAKOS, 1990) Para entrar nesta dimensão dual a alma precisa se apegar ao corpo, o que nos traz já duas grandes realidades com as quais brigaremos grande parte de nossa existência: a dualidade e o apego. ( JOHNSON,1996).

A dualidade se nos apresenta pelos opostos. Conhecemos o salgado e o doce, o quente e o frio, o amor e o medo, a dor e o prazer, corpo e alma, natureza e consciência, o bem e o mal…

A espécie humana é a expressão de uma divisão em duas partes, anteriores ao nascimento, que se manifesta em muitas formas. A relação dupla da criança a um só tempo com o pai e a mãe é um símbolo dessa divisão. Características masculinas e femininas, oriundas desta relação, se alternarão em nossos comportamentos e relacionamentos todo tempo. Para solucionar este conflito projetamos e transferimos nossa dualidade primária, experienciada nos relacionamentos parentais em praticamente todas as nossas atitudes.

A depender da cultura na qual estamos inseridos, atribuiremos a determinados valores o positivo e o negativo. Nesta nossa abordagem, o positivo e o negativo da conclusão de cada uma das fases do desenvolvimento não estão relacionados a bom ou ruim mas sim ao resultado de uma vivência adequada ou inadequada do indivíduo na sociedade. ( JOHNSON, 1996).

Quando escolhemos uma das polaridades de qualquer de nossas dualidades, internamente tentamos matar a outra e assim negamos parte de nós que, por não morrer e ter a necessidade de ser ouvida e vista, fica minando nossas intenções na tentativa de ser ouvida e vista e consequentemente fica dando-nos experiências cada vez mais sofridas e dolorosas obrigando-nos a vê-la. Em casos extremos, estas experiências podem até nos levar à morte física. Fugimos destas nossas mortes diárias pelo medo visceral da morte física, o que nos impede de viver nossa vida no momento presente. ( MAY, 1988).

Apenas quando nos tornamos conscientes de nossas transferências e projeções podemos escolher fazer a entrega para efetuar a transformação com a responsabilidade pelo nosso próprio processo e retornar ao Self.(JUNG,1964)

Apenas quando nos tornamos conscientes das nossas pequenas mortes diárias, em todas as suas dimensões, somos capazes de viver em plenitude a felicidade que o cotidiano nos traz e caminhar com segurança para a nossa morte física. (KÜBLER-ROSS, 1978, GLACER e STRAUSS, 1965).

O apego é a grande causa do sofrimento humano (ALMEIDA, 1995). Sofremos porque perdemos toda e qualquer coisa: sofremos porque perdemos um brinquedo, um carro, uma casa, nossas imagens e ilusões, pessoas queridas… Perdemos, perdemos e perdemos… e sofremos. Entramos aqui num círculo vicioso de perda e dor: por medo da entrega, nos apegamos ao conflito da dualidade, que nos é conhecido, reforçamos o medo, reforçamos o apego, e reforçamos a dualidade…

Como aprendemos em nossa cultura, evitamos a dor, evitamos a perda e fugimos da morte, ou pensamos fugir dela, o que nos mantém presos ao círculo. (BROMBERG,1994 e PIERRAKOS, 1990).

A EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NAS QUATRO DIMENSÕES

A morte se revela a nós a todo instante e em todas as circunstâncias, pois o seu registro está em nossas células, em nossas emoções, em nosso racional. “Nós podemos até retardá-la, mas não podemos escapar dela” . KÜBLER-ROSS, 1975.

As quatro dimensões da totalidade do ser humano se desenvolverão na seguinte ordem: física, emocional, mental e espiritual. Estas dimensões estão interligadas no processo contínuo de nosso desenvolvimento e, claro, consideremos didática a rigidez de sua cronologia.

Quanto mais abrangente for o nosso auto-conhecimento, mais ampliaremos nossa consciência ( WILBER, 1977), tendendo a permanecer em nosso centro: único lugar de onde teremos a chance de responder de forma inteira às solicitações que o viver nos traz no nosso dia a dia. (WALSH, 1980).

Este ponto, além do cérebro e além do ego, nos dá a oportunidade de cruzar o medo da morte, alcançando a sua aceitação e vivendo em plenitude a vida. (ANEXO I)

A DIMENSÃO FÍSICA

A dimensão física começa na concepção e vai até os 6 meses de idade, período em que todo o registro é sensorial. Qualquer sensação que ameace a vida física é percebida como uma ameaça de morte, (GROF,1988) e como neste estágio o desenvolvimento do nosso sistema nervoso não está de todo formado, (ESBÉRARD, 1980) esse medo é registrado na memória celular e não elaborável intelectualmente. É o medo visceral e irracional da morte escrito em nós.

O propósito básico ou seja o objetivo principal desta fase é crescer com saúde e segurança. Esta segurança é necessária para que a criança possa contactar, conhecer e se expressar neste plano dual.

A necessidade básica desta fase é a sobrevivência. É nesta fase que iremos observar os reflexos instintivos e automáticos de auto-preservação como a reação do choro quando sentimos fome.

O medo básico desta fase é o de danos que causem ameaça à vida física. Toda experiência sensorial que seja percebida como ameaçadora é registrada como uma experiência de morte.

Fechando esta fase do desenvolvimento e inseridos em uma dimensão dual, temos duas maneiras de concluí-la: positivamente, quando integramos as experiências traumáticas peri-natais e ameaçadoras da vida física, adequando-as à realidade subsequente, tornamo-nos seguros; negativamente, quando congelamos estas experiências, transformando-as em imagens que se repetirão num continuum na realidade subsequente, tornamo-nos inseguros e instáveis. (PIERRAKOS, 1990).

As experiências peri-natais são, em geral, traumáticas, ameaçam todo sistema de vida do bebê e, por si só, bastam para registrar a nível celular o medo da morte e suas implicações no inconsciente. O bebê vem de um sistema ideal de sobrevida e nutrição e, já ao nascer, é necessário que lute pelo ar inspirado para sobreviver. (GROF, 1988). Somando-se a isto as experiências físicas que ameaçam sua sobrevivência, o bebê experimentará grandes traumas a partir da unidade simbiótica original com o organismo materno e a partir das suas próprias experimentações.

A DIMENSÃO EMOCIONAL

A dimensão emocional, segundo estágio do nosso desenvolvimento, vai dos 6 meses aos 6 anos de idade.

A vivência básica desta fase é a experimentação dos sentimentos e das emoções. A criança passa a reconhecer pai e mãe, a responder de forma emocional aos estímulos externos, e passa a aceitar ou rejeitar circunstâncias em função do princípio do prazer e da dor. (FREUD,1976).

O propósito desta fase é relacionar-se. É nesta fase que a criança amplia o processo de relacionamento, tão importante para o desenvolvimento do Ser, tornando-nos capazes de partilhar informações, sentimentos e sensações.

A necessidade básica da criança é de ser amada e, aos poucos, com este aprendizado, surge a necessidade de também amar. As experiências de amor, distorcidas ou não, que experimentamos nesta fase serão determinantes para nossa crença do que é o amor. (PIERRAKOS, 1990). A depender da crença que formamos, reconheceremos o amor ou não. Habitualmente crescemos aprendendo um amor totalmente condicionado, amo você se…, amo você se você se comportar, não chorar, não fizer malcriação; e desta forma ficamos todo o tempo tentando comprar, vender, trocar ou barganhar amor.

O medo básico desta fase é do abandono e da rejeição. Por melhor, mais atenciosos e carinhosos que tenham sido nossos pais, todos nós, em algum momento desta fase, conhecemos a rejeição e o abandono. Dependendo do grau de abandono, rejeição e suas circunstâncias, temos duas formas de concluir esta fase: em uma conclusão positiva, quando da integração, permissão e expressão dos sentimentos, o resultado será o amor próprio, auto-estima, a habilidade de dizer não e de suportar a frustração; caso contrário, ocorre a auto-desqualificação.

São registrados vários mecanismos de defesa para suportar a “morte emocional”, tais como repressão, negação, introjeção e projeção, entre outros. (CREMA, 1985). Registram-se, então, congelamentos responsáveis pelos bloqueios emocionais, que irão gerar nas estratégias de caráter as questões duais que representarão nosso maior impedimento e, paradoxalmente, a ponte para o nossa realização pessoal. (BRENNAN, 1987).

A DIMENSÃO INTELECTUAL OU MENTAL

A dimensão intelectual ou mental vai dos 6 anos à adolescência; sua vivência básica é o desenvolvimento do pensamento e da racionalidade. O sistema nervoso humano só conclui seu desenvolvimento completo por volta dos 7 anos de idade. Todos os medos sentidos até esta fase estarão registrados de forma visceral na memória celular, e na forma de crenças na dimensão emocional, ambas anteriores a este desenvolvimento. Daí falarmos em congelamentos, não acessíveis pela simples elaboração intelectual, e sim através de vivências regressivas, métodos nativos de resgate de alma, hipnose, sessões de cura e outros. (BRENNAN, 1987 e ACHTERBERG, 1985).

O propósito desta fase é compreender a si mesmo e ao mundo. O homem é o único ser vivente capaz de ser sujeito e objeto de uma ação. A racionalidade, diferente da racionalização, esta um mecanismo psicológico de defesa, é a capacidade do ser humano de analisar, situar, classificar, julgar, decidir e discernir sobre fatos seus e do mundo.

A necessidade básica é conhecer e organizar a realidade para lidar com as questões que a vida nos impõe. Neste momento da nossa evolução é onde aprenderemos a estabelecer relações entre nossas sensações, nossos sentimentos e nossas crenças om a realidade da nossas circunstâncias. O medo básico desta fase é o medo do desconhecido, do insondável e do inquestionável, o medo da entrega.

A integração das experiências vividas nesta fase, a valorização da estrutura racional do discernimento, do reconhecimento da nossa própria capacidade intelectual nos leva a ser agentes tranformadores da realidade. A não integração das experiências desta fase leva à inadequação na realidade, à inabilidade de escolhas pertinentes e ao congelamento em falsas auto-imagens, mantendo padrões de negatividade. (DONOVAN, 1993).

Levamos muito tempo da nossa vida para integrar estes três níveis: físico, emocional e mental – o nível da personalidade humana. Apesar do desenvolvimento da dimensão espiritual se dar à partir da adolescência, só será possível nos dar conta desta dimensão e continuar a desenvolvê-la conscientemente se tivermos integrado as três dimensões anteriores. (WALSH e VAUGHAN, 1980).

A DIMENSÃO ESPIRITUAL

A última dimensão nesta cronologia, a espiritual, tem início na adolescência e continua até momentos antes da morte física.

Uma vez integrados os três primeiros níveis do ser humano e avançando no processo de individuação, alcançamos uma dimensão além do ego e do inconsciente pessoal e entramos no campo do Self ou Eu Real. Nesta direção, damos o enfoque da espiritualidade e das necessidades transcendentais inerentes a todo ser humano e diferentes do seu nível de religiosidade. (GROF, 1988).

A vivência básica desta fase é a vontade de saber ouvir a voz interior, ainda que muitas vezes nos vários níveis do inconsciente, com o propósito de alcançar a unidade. Como viemos da unidade temos uma pulsão de buscar a unidade: buscamos a nossa integração física cuidando da nossa alimentação, do nosso ambiente, do nosso conforto; a nossa integração emocional vivenciando e aceitando nossos sentimentos, as nossas rejeições e abandonos; e nossa integração mental reescrevendo a nossa própria história e transformando as nossas realidades.

A necessidade básica de retornar à unidade somente se realiza quando nos tornamos co-criadores dos nossos próprios processos e assumimos a responsabilidade pelas nossas próprias circunstâncias.

O medo desta dimensão é o de submeter-se. Entendemos submissão, no contexto do nosso ego, como humilhação e sinais de fraqueza e perda. Paradoxalmente quando somos donos do nosso ego é que podemos abrir mão dele e submetê-lo ao nosso Eu Real. “Somente quando você perder a sua vida, a ganhará…” (Lc 17,33 1973).

Então nosso maior impedimento – as realidades cotidianas e dramáticas do nosso ego e personalidade – se transforma na maior potencialidade para nos introduzir numarealidade maior, aqui e agora.

Integrando as experiências da dimensão espiritual à ampliação da consciência, alcançamos a paz interior, o conhecimento do propósito da vida. Ao contrário, quando não conseguimos integrar as três dimensões anteriores: física, emocional e mental, não alcançamos nosso desenvolvimento na espiritual e ficamos desorientados e sem propósito. (ANEXO II)

CONCLUSÃO

Conhecemos os medos em todas as dimensões do nosso desenvolvimento e a experiência destes medos constituem-se a vivência de nossas mortes diárias, tenhamos consciência disto ou não. Assim, morremos a cada respiração, a cada apego, a cada fuga, a cada perda, a cada dia quando dormimos, a cada crença que abrimos mão…

Na dimensão física percebemos e reagimos instintivamente a estas perdas; na dimensão emocional sentimos, rejeitamos ou aceitamos estas mesmas perdas e na dimensão intelectual alcançamos o conhecimento destas mortes diárias.

E não conseguimos transformá-las.

A transformação só é possível com o desenvolvimento espiritual, quando transcendemos o conhecimento, ampliando nossa consciência e alcançando a sabedoria. Quanto mais conscientes estivermos de nossas mortes diárias, mais nos preparamos para o momento da grande perda de tudo que colecionamos e nutrimos nesta vida, de toda a nossa bagagem intelectual, todos os nossos relacionamentos afetivos e do nosso corpo físico.

Lembrando que o grande medo da dimensão espiritual é o de submeter-se, podemos afirmar que só com muita fé poderemos nos submeter ao momento da morte de forma suave e menos dolorosa.

É bom lembrar que não precisamos aguardar a proximidade da morte física para entrarmos em contato com estes medos, muito pelo contrário, se fizermos antes este contato através de nossas pequenas mortes diárias, alcançaremos uma melhor qualidade de vida, enquanto nos preparamos para a grande perda, a do corpo físico.

Morte e vida são opostos na nossa realidade dualista e apenas nela. Morte e vida são um único aspecto quando nos tornamos um Ser Inteiro, integrando e vivenciando todas as dimensões do Ser.

NUREKR I E ITAI

Por acreditar na origem do medo da morte em suas quatro dimensões, fundamos a ITAI com a filosofia de promover a dignidade na vida e na morte a todas as pessoas que assim o quiserem, entendendo dignidade como o respeito a si mesmo, ao outro e a todas as formas de vida; e adotamos o “HOSPICE” como modelo assistencial a nível domiciliar, ambulatorial e hospitalar.

O NUREKR I, imbuído desta filosofia e inserido em um contexto acadêmico, desenvolveu um programa de capacitação visando uma mudança de atitude frente a morte e ao processo de morrer, permitindo assim que seus profissionais, ao receberem uma assistência na elaboração de suas perdas pessoais sejam capazes de assistir ao processo de morrer e a morte de seus clientes com menos transferências, aumentando assim a qualidade de seus atendimentos.

Neste processo de capacitação temos a oportunidade de trabalhar as cinco fases que antecedem a morte, descritas pela Dra. Elisabeth Kübler-Ross: NEGAÇÃO, RAIVA, BARGANHA, DEPRESSÃO E ACEITAÇÃO (KÜBLER-ROSS, 1969), nas quatro dimensões do ser humano: física, emocional, mental e espiritual.

ABSTRACT

This present work has been developed in the NUREKR I, the Nursing School of Federal University of Bahia and the ITAI Nucleus. This work is to enable a multidisciplinary team, who will be assisting clients with limited life expectancy, which will enable an attitude change on facing death, and the personal dying process and of others.

The origins of the death fear, can be found on the human being development, within the four dimensions: Physical, Emotional, Intellectual or Mental and Spiritual or Intuitive.

The focus here, is the irrational fear, imprinted in the physical dimension, where all knoledge is censorial.

The extra pyramidal system is responsable for a more accurate perception, that will be accomplished when the person is around seven years old. when all the fear felt until than, will be registered in a visceral form, in the cellular memory, and will not be possible to be elaborated intellectually. At the emotional dimension,the purpose is to establish relationship, and death is felt as rejection or abandonment. At the intellectual dimension, the purpose is to deal with life matters in a logical and rational way, and death is felt as the fear of surrendering. At the spiritual dimension, the purpose is to regain unit, and transcend the ego, death here is a felt as a fear to encounter the unknown.

Only aligned in all the dimensions, the human being will be able to prepare itself to encounter its death with dignity.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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. A Bíblia de Jerusalém. 1973 São Paulo, Edições Paulinas.

ANEXO I
AS QUATRO DIMENSÕES DO SER HUMANO

ANEXO II
EVOLUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NAS QUATRO DIMENSÕES

Morte: Um enfoque holográfico

Nossas crenças sobre vida e morte partem da premissa que elas são opostas. Esta é uma visão dualista, cartesiana e atualmente contestada e ampliada pela visão holográfica.As crenças passam a existir quando nos esquecemos que elas se apoiam em certos pressupostos sobre a natureza da realidade que funcionam como hipóteses. Conjunto de hipóteses criam modelos ou teorias e conjunto de teorias constituem paradigmas (ALËM DO EGO).Um paradigma é uma espécie de teoria geral de escopo capaz de abranger a maioria dos fenômenos conhecidos do seu campo e fornecer-lhes um contexto.Construímos então nossas crenças, embasadas, até aqui em paradigmas dualistas dentre os quais destacamos o cartesiano cuja visão se caracteriza por:

  • o átomo é indivisível;
  • objetos são sólidos;
  • o mundo físico é estável;
  • o universo é mecanicista;
  • existe causalidade e determinismo;
  • a relação sujeito versos objeto;
  • a realidade é percebida pelos sentidos;
  • a observação é indireta;
  • afirma a verdade absoluta da forma;
  • o conhecimento é fragmentado;
  • a consciência depende da estrutura cerebral fixa;
  • a relação básica é ou/ou (ALËM DO EGO E DINÂMICA ENERGÉTICA DO PSIQUISMO).

Nos tornamos assim crentes: o paradigma adquire um tremendo, mas não reconhecido, poder sobre os que eles aderem, estabelecendo-se um vínculo estímulo – resposta, uma condição em que nós só somos capazes de admitir nossa própria teoria por parecer evidente que não pode ser de outro modo. Denomina-se esta condição de fixação do paradigma.A morte se constitui o oposto da vida, segundo o paradigma cartesiano. Torna-se um fenômeno aterrorizante, repulsivo e desconhecido.

Dor e medo são os sentimentos básicos predominante nesta relação. Constitui-se então um tabu, um preconceito, sobre o qual é proibido falar, confrontar e até mesmo pensar, principalmente quando nos confrontamos de forma consciente com sua proximidade, por acidente, doença e velhice, seja em nós mesmos ou nos outros.Ultrapassando a visão dualista, alcançamos a visão holográfica do homem: O HOMEM É UM SER MULTIDIMENSIONAL. Pelo menos quatro dimensões são conhecidas: a física, a emocional, a intelectual e a espiritual, que interagem entre si e se sobrepõem.

Como ser multidimensional, o homem vivencia a sua morte em todas as suas dimensões. Esta compreensão só é possível se nos permitimos tomar consciência da nossa própria dualidade, da estratificação de nossos pensamentos e admitirmos que o observador é o próprio observado, isto é o sujeito é o objeto.

A condição necessária para o alcance desta visão é tornarmo-nos pessoas flexíveis aberta à natureza fluída da consciência de que nós todos somos um com os outros e todas as coisas.O enfoque holográfico da morte consiste em ampliar a consciência permitindo uma mudança de atitude em relação à morte e ao processo de morrer em suas múltiplas dimensões, ao mesmo tempo, promovendo assim uma maior dignidade na vida e na morte aos profissionais, clientes e seus familiares e a todas as pessoas que assim o quiserem.

Deste ponto de vista, morte e vida são a mesma coisa, o que se constitui uma nova e impressionante visão da realidade. O paradigma holográfico demonstra como isso é possível. Os principais representantes são os eminentes pensadores, o físico DAVID BOHM e o neurofisiologista KARL PRIBRAM, que propõem uma nova conceituação da matéria, inspirada no principio da holografia, a reprodução tridimensional de imagens por laser, segundo o qual todo o universo não passaria de um holograma gigantesco, um tipo de imagem criada pela mente, contendo tanto a matéria como a consciência na forma de um único campo.(TALBOT – UNIVERSO HOLOGRÁFICO).

Esta visão possui as seguintes características:

  • estruturas subatômicas;
  • impermanência da forma;
  • transformação constante;
  • probabilidades;
  • universo das incertezas e paradoxos;
  • inter-relação dos campos;
  • análise dos efeitos;
  • interação do observador;
  • correlação com a experiência;
  • o todo é maior que a soma das suas partes;
  • expansão da consciência e suas alterações;
  • relação com ambos: Yin e Yan.(DINÂNMICA ENERGÉTICA DO PSIQUISMO)

As idéias mais estonteantes e avançadas de todas propostas por BOHM são sobre a totalidade. Considerando que tudo no cosmo é formado de tecido holográfico contínuo da ordem implícita, ele acredita que não tem sentido encarar o universo composto de “partes” assim como considerar os diferentes gêiser numa fonte como separados da água da qual fluem.

EINSTEIN já havia surpreendido o mundo quando disse que o espaço e tempo não são entidades separadas mas estão suavemente ligadas e são parte de um todo maior que el chamou de contínuo espaço-tempo. BOHM dá um passo gigante à frente desta idéia pois afirma que tudo no universo é parte de um contínuo. Apesar da aparente separação das coisas a nível explícito tudo é uma extensão contínua de tudo o mais, e no final das contas até as ordens implícita e explícita misturam-se uma à outra. (TALBOT – UNIVERSO HOLOGRÁFICO).BOHM adverte que isso não quer dizer que o universo é uma massa indiferenciada gigante. As coisas podem ser parte de um todo indivisível e ainda ter suas próprias qualidades únicas.

Ele utilizou a seguinte experiência:

  • quando um pingo de tinta é colocado num jarro cheio de glicerina e um cilindro dentro do jarro é girado, a tinta parece se espalhar e desaparecer. Mas, quando o cilindro é girado na direção oposta, a tinta se junta de novo em forma de pingo.

BOHM usa este fenômeno como um exemplo de como a ordem pode ser tanto manifesta (explícita) como oculta (implícita).( TALBOT – UNIVERSO HOLOGRÁFICO.Desta forma, acredita BOHM, que a consciência é a forma mais sutil da matéria e a base para qualquer relação entre as duas está não em nosso próprio nível de realidade, mas no fundo da ordem implícita.

A consciência está presente nos diversos graus de encobrimento e descobrimento em toda a matéria, que é talvez a razão pela qual o plasma tem algumas características das coisas vivas: “a capacidade de a forma ser ativa é o aspecto mais característico da mente, e temos algo semelhante à mente no elétron”. TALBOT – UNIVERSO HOLOGRÁFICO.Saindo da física e transportando esse conhecimento para a psicologia perene, WILBER afirma que “a personalidade humana é uma manifestação ou expressão, em múltiplos níveis, de uma única Consciência, da mesma maneira como, na física, se considera o espectro eletromagnético como uma expressão de múltiplas faixas de uma única onda eletromagnética característica”.

De modo mais específico, o Espectro da Consciência é uma abordagem pluri-dimensional da identidade do homem; isto é, cada nível do espectro é marcado por sentido de identidade individual distinto e facilmente reconhecível, que se estende, por várias gradações ou faixas, da Identidade suprema da consciência cósmica ao sentido de identidade drasticamente estreito que está associado com a consciência egoica.

As cinco dos principais níveis ou faixas da consciência são:

  • O NÍVEL DA MENTE – é o que existe e tudo o que existe, ilimitado e portanto infinito, intemporal e portanto eterno, fora do que nada existe. Nesse nível o homem se identifica com o universo, o Todo – ou melhor, ele é o Todo. Esse nível não é um estado anormal de consciência, nem um estado alterado de consciência, mas o único estado de consciência real, sendo os outros, essencialmente, ilusòes…Em resumo, a consciência mais recôndita do homem é idêntica à realidade última do universo. Esse é pois, o Nível da Mente, da consciência cósmica, da suprema Identidade do homem.
  • AS FAIXAS TRANSPESSOAIS – representam a área supra-individual do Espectro, onde o homem não tem consciência de sua identidade com o Todo e, no entanto, não tem sua identidade confinada aos limites do organismo individual. Nessas faixas os arquétipos… ocorrem.
  • O NÍVEL EXISTENCIAL – aqui o homem identifica-se apenas com o seu organismo psicofísico total que existe no espaço e no tempo, pois esse é o primeiro nível em que a linha entre o eu e o outro, o organismo e o ambiente, é firmimente traçada. É também o nível em que os processos de pensamento racional do homem, bem como sua vontade pessoal, começa a se desenvolver.
  • O NÍVEL DO EGO – nesse nível, o homem não se sente diretamente identificado com o seu organismo psicossomático. Em vez disso, por uma variedade de razões, ele se identifica apenas com uma representação ou quadro mental mais ou menos preciso do seu organismo total. Em outras palavras, ele se identifica com o seu Ego, com sua auto-imagem.
    O NÍVEL DA SOMBRA – sob certas circunstâncias, o homem pode alienar vários aspectos da sua própria psique, desindentificar-se deles e, portanto, restringir sua esfera de identidades a partes do ego, a que podemos referir-nos como a persona. Trata-se do nível da sombra: o homem identificado com uma auto-imagem empobrecida e imprecisa, enquanto o resto de suas tendências psíquicas, consideradas muito dolorosas, “ruins” ou indesejáveis, é alienado como conteúdo da Sombra

Todas essas considerações nos levam a questionar a atual assistência de saúde prestada aos clientes terminais e família, bem como a postura e atitudes dos profissionais que o assistem. Na busca de um modelo que se adequasse aos novo paradigma holográfico, a ITAI, implantou a assistência “hospice” abrindo o espaço para uma mudança de atitude em relação a morte e o processo de morrer.

Esta assistência é realizada por uma equipe multidisciplinar de forma integrada no âmbito domiciliar, ambulatorial e hospitalar, pois o “hopice se caracteriza por:

  • enfatiza o cuidado nas dimensões; física, emocional, mental e espiritual uma vez que a cura é inatingível;
  • ajuda no alívio dos sintomas e visa o conforto global do sofrimento que sobrevém no curso da doença, morte e luto;
  • ameniza a dor total, não só a dor física;
  • promove a melhoria da qualidade de vida: não se prolonga inutilmente e nem se abrevia;
  • afirma a vida reconhecendo o morrer como um processo natural, quer seja ou não resultado de doença;
  • alivia a solidão do morrer.

Os elementos básicos são:

  • administração dos cuidados aos clientes por uma equipe multidisciplinar treinada, cujos membros se comuniquem regularmente entre si:
  • controle efetivo dos sintomas comuns da doença terminal, especialmente a dor e seus efeitos;
  • reconhecimento do cliente e família como uma unidade única de cuidados;
  • um programa ativo de cuidados em casa.

Compreendemos que desta forma podemos promover a dignidade na morte, entendendo a dignidade:

  • não sofrer ou passar por sofrimentos intensos que faz o cliente clamar contra o mundo;
  • poder escolher onde morrer;
  • ter alguém para ouvir as expressões de sentimentos e emoções sobre a morte próxima;
  • incluir e respeitar o cliente em todas as decisòes a respeito do seu caso;
  • responder com sinceridade as perguntas;
  • manter a individualidade do cliente;
  • não julgar as decisões do cliente contrárias as crenças dos profissionais;
  • aumentar as experiências religiosas ou espirituais;
  • respeito ao corpo após a morte;
  • compreender as necessidades dos clientes e família e ser capaz de ter alguma satisfação em ajudar o outro a morrer;
  • considerar a morte o último importante acontecimento.