Matéria do Jornal ESTADO DE MINAS 
Caderno Fim de Semana 
Domingo, 25 de Novembro de 1990 
Por Mirtes Helena

Absorvem, acumulam, transmutam, ampliam e transmitem energia.

Não se pode negar que o médico Celso Fortes de Almeida tem certo carisma, um jeito quase misterioso, embora seja acessível e paciente sempre pronto para explicar aos mais ignorantes e descrentes sobre o poder dos cristais. Aos 36 anos e morando há dois em Belo Horizonte, ele não esconde a sua alegria em ter vindo para esta cidade – “cheia de energia por ser rodeada de pedras” – que já elegeu como sua. Pioneiro no tratamento e cura através dos cristais, Celso é formado em medicina – “tenho CRM e tudo direitinho” – embora confesse que nunca conseguiu exercer a Medicina tradicional, “a não ser como psiquiatra, no primeiro ano de formado”. Para aumentar ainda mais um ar de mistério que o rodeia, ele mantém encontros periódicos com um índio que é feiticeiro de uma tribo nos estados Unidos, grande entendido em cristais.

 

 

 

 

Antes do tratamento, Celso faz três ou quatro entrevistas com os clientes
A disposição das pedras sobre o corpo do cliente varia de acordo com o caso

Tudo isso, no entanto, não retira do médico um toque bastante real e pé-no-chão. Estudioso do assunto, ele não confia em quem trabalha com os cristais contando apenas com a intuição, já que existe uma vasta literatura sobre o assunto tanto no Brasil quanto na Alemanha e Estados Unidos, países onde o estudo das pedras se encontra mais avançado. “O equilíbrio ideal do Homem é dosar o intelecto e a intuição”.

Fazendo questão de frisar que não quer ser tomado por curandeiro ou milagreiro, Celso adverte que “as curas são feitas pelos próprios clientes. Eu não tenho poder nenhum – garante. As pessoas é que me atribuem poder”.

Embora sempre tivesse tido uma admiração especial pelos cristais, certa atração pelo seu brilho, o médico Celso Fortes de Almeida só se deu conta da importância dessas pedras na sua vida em 1971, quando morou seis meses nos Estados Unidos. “Um dia – ele lembra – eu estava passeando pela cidade e um índio velho me chamou a atenção. Aproximei-me dele, nós ficamos nos olhando durante algum tempo e depois conversamos durante umas cinco horas sem sair do lugar. Ele me perguntou se eu sabia o que significava o anel que eu estava usando e, a partir daí, nos entendemos”.

Mais tarde, há cerca de cinco ou seis anos, quando, já iniciado, Celso trabalhava com cristais, mais um acontecimento ligado às pedras marcou sua vida. “Fui acometido de uma doença mais ou menos rara chamada Poliangeite-obliterante terminal, que normalmente acomete os idosos. As artérias começam a se fechar, a gente não consegue mais andar e houve um inicio de necrose no meu pé. Os médicos que me assistiam – nessa época eu morava em Salvador – me deram nove meses de vida. E disseram que eu teria de amputar meus pés”.

Formado em medicina em 78, Celso sabia exatamente o que tinha e, no exato dia em que os médicos lhe deram a notícia da necessidade de amputação ele se fechou no seu quarto e lá ficou meditando, chorando e trabalhando com seus cristais das 10 horas da manhã até as quatro da madrugada, quando exausto, dormiu.E só acordou as oito, ouvindo uma voz interior que lhe dizia para não mutilar o próprio corpo.

“Trabalhei normalmente aquela semana e quando voltei ao médico, ele ficou abismado. O aparelho próprio colocado no meu pé para medir a pulsação que antes não existia já registrava um tímido movimento. A partir daí, fui melhorando cada vez mais e aqui estou completamente curado”.

Temendo ser tomado por um curandeiro ou milagreiro, Celso Fortes fez questão de frisar que para ele, não há nenhum mistério no tratamento com os cristais. E explica: as pedras têm propriedades de absorver, acumular, transmutar, ampliar e transmitir energia. “O poder de cura dos cristais é milenar e há estudos dando conta de que a Atlântida desapareceu pelo mau uso das suas pedras”.

Não se trata de fé, segundo o médico. Uma pessoa que não acredita no poder de cura dos cristais também pode se beneficiar das pedras. “Trata-se de um assunto muito sério – adverte Celso Fortes, para quem o trabalho com energia dos cristais pode interferir no Karma das pessoas”. “As pedras em nível energético nos nossos chamados corpos sutis, que são envoltórios invisíveis do nosso corpo físico”.

É interessante observar como Celso trabalha com seus cristais. Antes de começar a tratar alguém, ele faz três ou quatro entrevistas com seus clientes para fazer uma avaliação do estado emocional da pessoa. E embora tenha formação psicanalítica, garante não que não usa essa técnica durante esse período que é uma espécie de psicoterapia. “A psicanálise é muito doida – justifica. Eu não acredito que uma pessoa, para viver bem, precisa passar por um processo tão doloroso. O que eu utilizo nessas sessões é a técnica do amor. Eu me coloco aberto para ouvir as pessoas”.

Sem medo de errar, o médico afirma que “toda doença tem causas emocionais”, embora não negue as contaminações. As doenças se instalam quando encontram espaço aberto para isso – acredita. Terminando o período de conversa, só aí o médico parte para o tratamento com os cristais propriamente ditos. As pedras são colocadas sobre o corpo do cliente, exatamente sobre os “chacras”, que são entradas de energia espalhadas pelo nosso corpo segundo a filosofia e medicina orientais.

A disposição das pedras sobre o corpo do cliente varia de pessoa para pessoa de acordo com cada caso, com cada histórico, segundo Celso Fortes de Almeida, assim como o número de pedras utilizadas. “É nesse momento que há a transmissão de energia dos cristais para a pessoa” – explica o médico, segundo o qual toda e qualquer cura acontece, primeiro, no nível das auras e só depois no corpo físico.

O número de sessões necessárias para a cura também depende do caso. Às vezes, o médico pede para que o cliente faça exercícios e aplicações das pedras em casa. Celso não confia na chamada “utilização intuitiva dos cristais” como muita gente vem fazendo desde que o assunto virou moda. “Outros crimes cósmicos também são cometidos em nome da intuição – diz. Quando o cristal está interferindo na aura de alguém, está modificando todo o curso de sua vida. E isso para mim é muito sério”.

Segundo o médico, não há motivo nenhum para que as pessoas que trabalham com cristais não estudem o assunto. “Há uma vasta e séria literatura sobre as pedras principalmente na Alemanha e nos Estados Unidos, onde este tratamento tem mais tradição e já é usado há mais tempo”. O estudo científico é necessário e eu não dispenso os conhecimentos teóricos. Afinal, a harmonia do ser humano é exatamente saber dosar o intelecto e a intuição.

A energia dos cristais é para Celso Fortes de Almeida, algo palpável e verdadeiro. Ele relata experiências feitas nos Estados Unidos onde foram fotografados energeticamente uma pessoa doente e um cristal limpo e energizado. “Após a sessão de cura – conta – novas fotografias foram feitas e constatou-se o seguinte: a aura da pessoa doente, antes escura, estava clara. A do cristal, antes brilhante, estava escurecida”.

Como médico formado, Celso não pede aos seus clientes que abandonem o tratamento tradicional que por ventura estiverem fazendo. Uma coisa não é incompatível com a outra e essa é uma opção, segundo ele, que só cabe ao próprio cliente.

O cristal é um ser vivo?

Antes de responder a esta pergunta, Celso para um pouco para dizer: “O cristal é o sal da terra, composto por moléculas de dióxido de silício”. Assim como existem seres vivos rastejantes na lama e monges evoluídos que meditam a 20 centímetros do chão, também existem diferentes níveis de evolução dos minerais. O ser humano é o setor mais evoluído do reino animal. Os cristais são a forma mais evoluída dentre os minerais.

Ensinando a morrer

Ultimamente Celso tem atendido a vários pacientes terminais, principalmente aidéticos. Nesse assunto ele enfatiza que é preciso deixar claro a sua condição de não milagreiro. “Na verdade, eu não curo ninguém. As pessoas é que se curam com a minha ajuda. É lógico que nos casos de pacientes terminais como os aidéticos não há cura. O que meus clientes tem me relatado é uma regressão dos sintomas”.

Fazer com que o paciente terminal aceite a morte com maior naturalidade, dando menos valor ao corpo físico é uma das funções do médico que garante estar se dando muito bem nesse tipo de tratamento. “Se o ser humano soubesse como ele é pequeno, não levaria a vida tão a sério, brigaria menos e teria menos orgulho. Não é difícil preparar uma pessoa para morrer. E quando se aceita a morte, tem-se a chance de optar pela vida”.

Atender pacientes terminais tem sido um tendência que cresce a cada dia no interior do próprio médico que, aos poucos tem descoberto que esse é o seu verdadeiro talento. Ele não descarta, no entanto, outros tipos de tratamento como o de dores, por exemplo, mas também com excelentes resultados segundo relata. Outro sucesso que tem conseguido em seu consultório é no tratamento de mulheres que têm dificuldade de engravidar.

“Algumas”, segundo ele conta, conseguiram ficar grávidas depois de energização com os cristais e ficaram muito felizes com isso.

Ao explicar o que é a “cura pelos cristais”, Celso diz que ela se dá, inicialmente no nível espiritual. “A responsabilidade dessa cura não é minha – assegura. Primeiro, eu levo a pessoa a se amar, isso sim é fundamental para qualquer cura. Às vezes as pessoas chegam para mim e dizem. Doutor eu estou tomando todos os remédios que o médico me deu e não estou melhorando. Então eu pergunto: e você? O que está fazendo para se curar?”

Celso Fortes de Almeida é um dos pioneiros no Brasil no trabalho terapêutico com cristais. Aos 36 anos, e morando em Belo Horizonte há dois, ele conta que veio para a capital mineira atendendo a um comando interno. E garante: “aqui é o meu lugar. Belo Horizonte é uma cidade privilegiada porque é rodeada de pedras. BH é de uma pureza energética indescritível”.

Para as pessoas que se interessam ou se sentem atraídas pelos cristais, Celso ministra cursos básicos sobre o assunto periodicamente. O próximo será nos dias 10 e 2 de Dezembro, quando o médico falará sobre os “chacras”, os corpo sutis que são os envoltórios energéticos do nosso corpo físico, os diferentes tipos de cristais e suas funções.

Alem do curso de cristais, Celso ministra também um outro, de auto-conhecimento, que tem sido muito procurado. Segundo ele, nesse curso, ele tenta ensinar as pessoas a ouvir a voz interna. E isso é possível? “É claro – ele garante. E completa: “as pessoas vivem em função de suas crenças e isso é uma coisa lógica”. Na medida em que ela muda a sua crença, naturalmente irá mudar de vida”. Ter um contato maior consigo mesmo ainda é, segundo Celso, a melhor forma de crescer.

Periodicamente, Celso Fortes ainda vai aos Estados Unidos para ter novos contatos com aquele índio do início da história. Ele não revela, no entanto, a que tribo pertence o índio, limitando-se a dizer que ele é o feiticeiro de uma tribo.

Pedra da sorte

Agora que as pedras e os cristais estão na moda, muito se tem ouvido falar das tais pedras da sorte, sempre ligadas ao nascimento das pessoas e, portanto, aos seus signos. Celso Fortes, porem, não acredita nisso. Para ele, as pedras são válidas de acordo com o momento vivido pela pessoa. E para cada necessidade, há uma pedra correta.

Só para dar alguns exemplos, Fortes assegura que, para presentear alguém que acabou de perder um ente querido, nada melhor do que a ametista. “Ela abre a espiritualidade da pessoa, faz desenvolver uma maior sabedoria e compreensão” – garante. Se você acha que está precisando de proteção, tenha sempre consigo uma pedra branca transparente e uma preta. A primeira faz você brilhar, porque acelera o seu crescimento interno e a segunda cria uma maior vibração áurica, formando um verdadeiro escudo à sua volta. Essas pedras podem ser trazidas dentro de uma bolsa, no bolso, ou em alguma jóia. “Já o quartzo fume, segundo já se comprovou, aumenta e muito a fertilidade, sendo indicada para pessoas com dificuldade de engravidar”.

Ainda este ano, Celso Fortes Almeida vai aos Estados Unidos. E se tudo der certo como ele planejou, vai passar um mês num albergue de bebes aidéticos como voluntário. Ele aproveita para fazer um seminário com a doutora Katrina Raphaell, uma das maiores autoridades em pedras do mundo.